domingo, 25 de abril de 2010

O ESTADO NOVO NO PIAUÍ - FLAGRANTE CONTRADIÇÃO

O Piauí dos anos 1940 vive em flagrante contradição. Alia subdesenvolvimento econômico e social ao progresso em termos de realizações físicas. Não se tem liberdade de expressão. A polícia funciona como verdadeira máquina de repressão do sistema. O Exército, por sua vez, oferece apoio à ditadura de Getúlio Vargas. Apesar do regime de exceção, são muitos os avanços em termos institucionais, como a promulgação da nova Constituição, a implantação da Lei Orgânica dos Municípios e da Lei de Organização Judiciária. Foram também realizadas obras de saúde, educação e infraestrutura com a construção do Hospital Getúlio Vargas, a abertura de inúmeras estradas e a conclusão do edifício do Liceu Piauiense (Colégio Estadual Zacarias de Goes).

No âmbito cultural, registre-se a construção da Casa Anísio Brito (Biblitoeca, Museu e Arquivo do Estado, organizada pelo historiador Anísio Brito), e o incentivo às letras com a publicação de obras literárias por conta do Estado. Em Teresina, estão sendo construídos o Hotel Piauí e a cidade ganha novos ares com a arborização de praças, ruas e avenidas.

Não há liberdade de informação. Qualquer crítica ao sistema através da imprensa era prontamente silenciada. Constantemente, escritores e jornalistas eram encarcerados nos porões do Quartel da PM. Um deles, Cunha e Silva, narra as humilhações que lhe foram impostas pelo regime ditatorial. “Foram dias terríveis, de humilhações e privação”, relata. Impedido de exercer a profissão, chegou a passar fome com a família.

Os jornais limitam-se ao registro de eventos cívicos, fatos políticos de interesse do governo ou anúncios publicitários. As atividades jornalísticas limitam-se à rotina devido à rigorosa censura imposta a todos os meios de divulgação. Ninguém ousa contrariar a ditadura. Daí a dificuldade dos atuais pesquisadores em conseguirem informações sobre aquele período.
Circulam os seguintes periódicos: Jornal do IAPC (1938); Revista da Associação Piauiense de Medicina, órgão da sociedade do mesmo nome (1939); A Voz do Estudante, órgão do Grêmio Literário Da Costa e Silva, do Colégio Leão XIII (1943); Zodíaco, órgão do Grêmio Cultural Lima Rebêlo (1943); Língua de Sogra, produzido por A. Tito Filho com a colaboração de Petrarca Sá e Tibério Nunes (1943); Geração (1945).

O famigerado DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) é o meio pelo qual o Estado Novo censuva as notícias que não podiam sair na imprensa. No Piauí, há o DEIP, aliado à tenebrosa ação do coronel Evilásio e sua temível força policial. O departamento de censura lança sua sombra sobre o Estado através da força policial, que mantém centenas de informantes secretos infiltrados entre as classes populares, do que muito se orgulha o coronel Evilásio.

2 - INDIGNAÇÃO REPRIMIDA

Foi em clima de indignação reprimida que o Piauí recebeu, em 24 de abril de 1942, a visita do Ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra. Ele foi homenageado com um banquete no Theatro 4 de Setembro. O interventor Leônidas Melo se pronunciou manifestando irrestrito apoio ao regime de Vargas. A presença do ministro em território piauiense fez ampliar as proclamações favoráveis à participação do Brasil e, consequentemente, do Piauí no conflito. O governo brasileiro ainda mantinha neutralidade irritante. Para aqueles que estavam fartos da ditadura e suas temíveis implicações, nada melhor do que participar da campanha contra o Eixo. Aquilo poderia despertar na maioria da população o desejo de liberdade que emanava da maior democracia do planeta, representada pelos Estados Unidos.

O desembargador Simplício Mendes de Souza era um deles. Articulista da imprensa teresinense, costuma associar a participação do Brasil no conflito a uma ruptura com o modelo centralizador de Vargas. “Os ventos que sopram de fora, principalmente da Inglaterra e dos Estados Unidos, são ventos de liberdade. De quem está lutando pela liberdade porque convive com a liberdade. De quem combate a opressão por vivenciar a democracia em seu estado pleno. Acreditamos que a participação do nosso país neste conflito de proporções mundiais servirá para municiar nossa gente por inteiro do sentimento de libertação, que é algo com que não estamos acostumados a conviver”, escreveu, pouco depois da visita do ministro.

Os americanos já estavam utilizando o território brasileiro para instalação de bases militares. Após a visita de Dutra, os militares passaram a ser ainda mais cortejados pelas autoridades piauienses. O coronel Evilásio Vilanova, comandante da Polícia Militar, foi homenageado no dia 7 de maio do mesmo ano, também no Theatro 4 de Setembro, com saudação do prefeito Lindolfo Monteiro. Detinha, portanto, um poder quase que absoluto, somente comparado ao poder do interventor, e mesmo assim muitos entendiam que ele tinha ainda mais força do que Leônidas. Sim, porque o interventor o deixava agir à vontade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário