segunda-feira, 26 de julho de 2010

O ESTADO QUE PRECEDE A DEVASTAÇÃO

O Estado Novo começou bem antes de surgimento que é marcado em calendário. De acordo com a história, foi em 1937 que Getúlio Dornelles Vargas, alegando perigo de invasão comunista do país, implantou o regime de exceção. Mas a exceção há havia desde alguns anos, quando ele, à frente da Revolução de 1930, tomou as rédeas do país. Dizemos rédeas porque foi isso mesmo que aconteceu.

O objetivo alegado era de democratizar o Brasil, cuja política era marcada pela supremacia de paulistas e mineiros, a chamada República do Café com Leite. No Piauí, os embates eleitorais eram intensos e quase sempre marcados por violência de parte a parte. Mas naquele ano de 1930 as coisas até que pareciam calmas em território mafrense.

Em 1º de julho de 1928 tomara posse no governo do estado o agricultor e bacharel em direito João de Deus Pires Leal, o Joca Pires, que era uma figura tranquila. Costumava seguir ao trabalho em palácio a pé, cumprimentando os populares, e no final da tarde não dispensava o passeio elegante nas praças Pedro II e Rio Branco.

Costumava sentar-se à praça para conversar demoradamente com seus conterrâneos e eleitores. Raramente se envolvia em discussões polêmicas e quando estourou a Revolução ele já contava com série de realizações, dentre as quais a construção de estradas e de inúmeros prédios escolares. A educação era sua prioridade, como ele mesmo costumava afirmar, porque não haveria progresso para o estado sem a educação do seu povo. O programa educacional era coordenado por Cristino Castelo Branco.

O Piauí era rudimentar em todos os aspectos. Na própria capital eram raras as ruas efetivamente delineadas. As casas, na sua maioria de palha, eram agrupadas uma ao lado da outra sem a necessária preocupação com o arruamento. Também não havia recursos para benefícios como calçamento, abastecimento d'água e energia elétrica.

Joca Pires, com o estouro do movimento revolucionário, não teve tempo de se esconder e, além de deposto, foi preso pelos revoltosos. Sua deposição ocorreu em 4 de outubro de 1930. O momento seguinte foi de profunda instabilidade, vez que vários governantes se alternaram no poder.

O governo foi assumido por Humberto de Arêa Leão, que era comandante da Marinha e vice-governador. Para tomar posse, precisou jurar fidelidade ao movimento encampado por Vargas. Foi nomeado interventor federal em 4 de novembro do mesmo ano, no entanto permaneceu pouco tempo no poder. Foi deposto pela Polícia Militar.

Tomou posse, em seguida, Joaquim Vaz da Costa, no dia 29 de janeiro de 1931. Era militar e foi designado interventor federal provisório. Aos seus contemporâneos, declarou certa feita: "Meus objetivos foram consolidar os ideais revolucionários. Havia muita conturbação na cena política local. Fiz a minha parte." Governou por apenas cinco meses.

Em 7 de abril, o juiz Raimundo Campos foi nomeado interventor porém não aceitou a empreitada. Campos discordava dos preceitos do movimento revolucionário.

No dia 21 de maio de 1931, assumiu Landri Sales Gonçalves, na condição de interventor, permanecendo no poder até 3 de maio de 1935. Segundo Arimathéa Tito Filho, em "Governos do Piauí", foi ele responsável pela pacificação da família piauiense. Empreendeu a reforma do Poder Judiciário, construiu prédios escolares e iniciou a construção do prédio do Liceu Piauiense (Colégio Estadual Zacarias de Góis).

Criou a Diretoria de Saúde (hoje Secretaria de Estado da Saúde) e reorganizou administrativamente os municípios. Landri Sales criou o município de Fronteiras por meio do decreto n° 1.645, de 16 de abril de 1935. Em sua gestão deu-se a inauguração do cinema falado em Teresina, houve a criação da Diretoria das Municipalidades e a instituição do Conselho Consultivo do Estado. Durante a sua administração ocorreu a chegada dos primeiros aviões a Teresina.

Com Landri Sales, o Piauí enviou tropas para conter os paulistas na revolução contra o governo de Vargas. O estado de São Paulo se insurgiu contra o presidente, apesar de inicialmente apoiá-lo em sua investidura no cargo, porque Vargas prometera convocar eleições diretas para presidente e não o fez.

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Registrou-se na gestão de Sales a revolta chefiada pelo Cabo Amador, da Polícia Militar, que decidiu tomar o governo sob seu controle. Reuniu soldados sob seu comando e marchou contra o interventor Landri Sales. O governante foi preso e Amador permaneceu no comando do Estado por 48 horas.

Remanescentes daqueles tempos conturbados afirmam que a praça Pedro II se transformou num palco de guerra. Havia armas e homens espalhados por todos os lados, aguardando apenas a ordem para invadir Karnak e retomar o controle da administração. Temiam apenas pelos reféns, dentre os quais Landri Sales, que poderia ser morto no confronto. Havia temor entre as pessoas e em pouco tempo as ruas estavam desertas. Somente armas e soldados. Amador se rendeu e evitou o banho de sangue.

Landri Sales foi duas vezes substituído no governo. Na primeira delas, ficou em seu lugar o secretário geral Martins de Almeida, entre 28 de fevereiro de 1933 e 26 de junho de 1933. A segunda vez ocorreu entre 4 e 10 de setembro de 1934, quando o governo foi exercido interinamente por Leônidas de Castro Melo.

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Leônidas de Castro Melo viria a ser efetivado no governo em 3 de maio de 1935 após eleição indireta pela Assembleia Legislativa. Médico, professor, fora eleito segundo as regras vigentes na época, logo em seguida alteradas pelo golpe de estado que ficou conhecido como Estado Novo. Por esta razão, a partir de 24 de novembro de 1937, governou como interventor federal.

Inúmeros acontecimentos marcaram seu período no governo. Um deles, a subversão comunista de 1935 e a promulgação de uma nova Constituição, no mesmo ano. Houve também a implantação da Lei Orgânica dos Municípios e a Lei de Reorganização do Judiciário (novamente reorganizado em menos de cinco anos). Também realizou obras na área de saúde e construiu estradas, além da conclusão do edifício do Liceu Piauiense.

Leônidas Melo construiu o Hospital Getúlio Vargas, a Casa Anísio Brito (biblioteca, museu e arquivo do estado, sob coordenação do historiador Anísio Brito), iniciou a construção do Hotel Piauí, incentivou as letras com a publicação de obras literárias por conta do estado, promoveu arborização e higienização de Teresina e ampla reforma administrativa. Por motivo de viagem do interventor o poder foi exercido várias vezes por Álvaro Sisifo Correia e João Osório Porfírio da Mota, que foram secretários gerais de sua administração.

Foi durante o governo de Leônidas Melo que os piauienses (especialmente os teresinenses) se viram diante do terror verdadeiro - os devastadores incêndios das casas de palha.

3 comentários:

  1. Vaz da Costa Permaneceu no poder por apenas algumas horas e foi substituído pelo Capitão Lemos Cunha que já servia na unidade militar sediada em Teresina 25º BC, mas na data do episodio não encontrava-se em Teresina mas na Paraíba na cidade de princesa com parte da tropa do 25 BC. Esta não agradou muito permanecendo por pouco tempo, Logo depois foi nomeado o Capitão Landri Sales este do estado do Ceará e amigo pessoal de Juarez Távora.

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  2. Joaquim Vaz da Costa Não era Militar e sim Desembargador e chefe politico na sua região de São Raimundo Nonato.A crise entre ele e Humberto de Areia Leão foi ocasionada por este não ter ganho nenhum cargo publico no governo revolucionário.

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  3. A Brigada Militar que depois passaria a denominação de policia militar do Piaui não depôs Humberto de Areia Leão ela apenas não não deu sustentação ao seu governo já que os baixos soldos e atrasos no pagamento fizeram com que a mesma permanece-se imóvel, mas Humberto de Areia Leão já pegou o bonde andando a crise financeira já estava instalada no governo de João de Deus Pires Leal.

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